sexta-feira, 16 de março de 2012

Ramones Mania !!!

Foi lançado pela Madras Editora, o livro 'Hey Ho Let's Go'. A obra retrata a história do Ramones desde o início da banda até a morte de Johnny Ramone sob o olhar de um fã, o jornalista inglês Everett True.
A biografia dos precursores do punkrock contém 480 páginas, custa em torno de R$ 55,00 e já pode ser adquirida nas principais livrarias do país. Confira abaixo a introdução de 'Hey Ho Let's Go - A História dos Ramones':
"Willesden, 1984. Economizei semanas para comprar Too Tough To Die importado e estava pra lá de empolgado quando trouxe o disco para casa. A primeira vez que o tirei da capa para tocar na vitrola mono Dansette, meu gato - que também estava empolgado - pulou sobre o vinil girando sobre o prato. O gato e eu, então, embarcamos em uma brincadeira maluca de esconde-esconde pela casa enquanto a voz de Joey soava envenenada, crua e rouca.
Nesse mesmo ano, formei um grupo vocal new wave - The Legend! And His Swinging Soul Sisters, com meu irmão e Dave Smith, do trabalho -, com o único propósito de cantar Ramones e covers de soul dos anos 1960 em apresentações ao vivo. Aprendemos a primeira regra do punk: não importa o quanto você é bom na guitarra - na verdade, levamos ao pé da letra a máxima "menos é mais" dos Ramones para uma conclusão lógica. Dispensamos totalmente os instrumentos.
London Electric Ballroom, 29/2/1980. Uma das primeiras vezes que assisti aos Ramones foi também uma das duas únicas que tirei a camiseta enquanto dançava. Fazia muito calor e o lugar todo estava furioso, pulando pra cima e pra baixo. A distância, vi outro cara sem camiseta. Então resolvi "pogar" até ele. Era meu irmão Michael, que, antes, em 1976, tinha me introduzido aos Ramones e à música pop, o mesmo que, uma vez, eu confundi com o Joey em uma foto na revista Punk - aquela foto famosa em que o Joey e a Debbie Harry aparecem na cama abraçadinhos. Eu nem sabia que meu irmão estava no show. Voltando pra casa, no metrô, fui entoando "Hey Ho Let's Go!".
Seattle, abril de 1999. Depois de uma residência de nove meses como editor de música no The Stranger, iconoclástico semanário da capital grunge americana, cumpri uma ambição de vida fazendo cover dos Ramones na minha festa de despedida, com a escória das bandas de rock locais, The Promise Keepers, como apoio. Foi a primeira vez (à parte uma breve experiência com uma banda de rock na faculdade) que eu cantei uma música dos Ramones acompanhado de guitarra. Cara, foi demais agarrar o microfone, como um Joey um pouco mais rechonchudo - deixando cada vogal sair sem pressa pela garganta, a bateria mandando bala. É claro que só escolhemos músicas dos três primeiros álbuns.
Nova York, 1989. Estou gravando um compacto simples para o selo Sub Pop. E, mais importante, estou entrevistando Joey Ramone para a Melody Maker. (Isso, depois de ter sonhado muito em ver os Ramones na primeira fila em um show em algum boteco: só eu na plateia. Estão incríveis, como sempre, mas Dee Dee, irado com a falta de atenção,
anunciou que para ele já deu, está fora da banda! Duas semanas antes de eu entrevistar Joey, Dee Dee tinha deixado os Ramones.) Joey é o cara mais alto e mais doce que já conheci. Ele mostra sua pilha de pôsteres psicodélicos dos anos 1960 e toca faixas de um projeto solo (um álbum country). Eu pergunto se ele não gostaria de aparecer no
estúdio e gravar uns acordes de apoio para uma versão vocal de "Rockaway Beach". Ele topou, mas não apareceu. Em vez disso, ligou para o estúdio e passou 15 minutos inventando uma desculpa deslavada... "Hey, Jerry? É o Joey, puxa, desculpa, não vai dar pra aparecer no estúdio hoje."
Lollapalooza, 1996. Desmaiei de bêbado, no meio da areia e da sujeira, com uns 40º C à sombra. O vocalista do Screaming Trees, Mark Lanegan, está jogando água em mim em uma tentativa de manter-me vivo. Joey passa por lá e diz: "Ei, cara, não detona o chão!". Mais tarde, posso ser visto em frente ao palco, na fila do gargarejo, dançando feito um selvagem, balançando a cabeça com garotos que, juntos, não somam a metade da minha idade; berrando: "Isso é Ramones, seus cuzões! Dancem, DANCEM!".
London Lyceum Ballroom, fevereiro de 1985. Os Ramones estão com problemas técnicos. O som vai e volta. Durante uma dessas panes, doido e sem fôlego por conta da dança frenética, berrei para o Dee Dee: "Toca um solo pra gente". Os Ramones nunca foram conhecidos por sua espontaneidade - na verdade, tal atitude é anátema do seu credo -, mas o baixista, sentindo-se na obrigação, rangendo os dentes por uns segundos, criou um ruído sonoro apertando o dedo na bochecha, daquele jeito que se faz por aí. Depois disso, por meses, eu contaria como o Dee Dee tocara um solo de dente pra mim.
Chelmsford, 1976. Surrupiei o primeiro álbum dos Ramones do esconderijo do meu irmão e estou ouvindo na radiola da família. A sonoridade é estranha, parece a de uma serra elétrica ligada no máximo. Minha mãe entra na sala e profere a sentença imortal: "Mas isso é música?". Se é música? Não só é música como é mais: é um vazio sonoro que possibilita ao ouvinte preenchê-lo do jeito que quiser, por mais bizarro que seja. Essa é a generosidade dos Ramones. E eu entendi na hora que qualquer um capaz de criar tamanho desencontro entre gerações só pode ser bom, decente e correto.
Joey, Dee Dee e Johnny, vocês fazem falta."

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